Paulo André Camilo, 22, sua missão no atletismo só estará cumprida quando chegar ao posto de atleta mais veloz do mundo. “Se um dia eu acordar sem ambição de alcançar o que o [Usain] Bolt alcançou, prefiro não sair da cama”, diz o velocista, em referência ao jamaicano detentor do recorde mundial dos 100 metros rasos. O sonho funciona como um estilingue, que ele, durante o recesso das competições devido à pandemia de coronavírus, aproveitou para esticar ao máximo em busca do impulso definitivo na carreira.
Nos 100 metros rasos, prova nobre do atletismo, se destacou como o homem mais rápido do Brasil na atualidade ao correr abaixo dos 10 segundos. Porém, seu tempo de 9s90 não foi homologado, já que o vento na pista de Bragança Paulista, sede do penúltimo Troféu Brasil, estava acima do permitido para a contabilização de recordes. Ainda assim, ele permanece confiante de que, em breve, vai bater a marca de Robson Caetano, que cravou 10 segundos em 1988. “Eu já quebrei o recorde brasileiro. Falta apenas a oficialização”, explica. “Tinha receio de falar, mas, agora, quebrar a barreira dos 10 deixou de ser um sonho para virar uma meta prestes a se concretizar. Meus 100 metros estão encaixando cada vez mais. Evoluí bastante na parte inicial, principalmente no bloco [de largada]. Só preciso de uma competição com vento legal.”
A pandemia foi um choque e nos pegou de surpresa pela paralisação de tudo. A partir do momento em que as competições pararam, tive de mudar meu planejamento”, conta. O principal antídoto foi se desapegar da pressão do tempo. “É um baque, né? Ganhei um ano de treinamento, mas, por outro lado, perdi um ano de competição. O que me conforta é pensar que meus objetivos foram apenas adiados. Ainda sou jovem. O mais importante, neste momento, é a saúde da humanidade.
O fato de ter o pai Carlos Camilo, ex-atleta e professor de educação física, como treinador facilitou a adaptação à nova realidade. “Estou acostumado a ficar 24 horas com meu pai. Nossa relação hoje é tranquila”, afirma o velocista, lembrando da época em que os desentendimentos marcavam a convivência dentro e fora das pistas. “Já foi mais conturbada, porque, no começo, a gente não sabia separar muito bem a coisa de pai e filho, treinador e atleta. Mas eu amadureci. Aprendi a lidar com as diferenças e nossas personalidades fortes.
Não adianta treinar todos esses anos e chegar na hora da largada com o pensamento de que não vou conseguir. Durante a pandemia, tive alguns momentos de desmotivação, por não ter competição, pelos boatos de cancelamento da Olimpíada… Mas segurei a onda para voltar ainda mais focado em meus objetivos.” A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) remarcou para dezembro o Troféu Brasil, que consagrou o capixaba como tetracampeão nacional dos 100 metros (10s13).
Missão Europa, projeto que concentrou os melhores atletas do país em um centro de treinamento em Portugal, visando a continuidade da preparação para os Jogos de Tóquio. Distante do ritmo frenético de competições, ele usou o período de isolamento para se engajar mais na causa da igualdade racial, inspirado pelo movimento Black Lives Matter. “O atletismo é um esporte de predominância negra, mas acho importante me posicionar sempre contra o racismo. Quero ser uma referência no esporte em relação a isso.
Mesma idade de Paulo André. O recorde (9s58) do jamaicano, que se aposentou do esporte há três anos, permanece intacto. Porém, o atleta brasileiro se vê em condições de entrar na corrida para desbancá-lo. “O Bolt é um atleta icônico, uma referência além da modalidade, como Phelps e Ayrton Senna. A lição que ele deixou é que não basta só talento. O treinamento é primordial. Trabalho para alcançar as marcas dele. Sempre com os pés no chão, mas sonhar alto é meu maior combustível.
Jogos, a fim de estabelecer logo a marca abaixo dos 10 segundos. Seria um trampolim para conquistar ao menos uma medalha olímpica em sua tão sonhada prova de fogo, colocada em banho-maria pela pandemia. “Sigo ansioso e muito confiante para a Olimpíada. Estou num estilingue, que se estica cada vez mais. Quando as competições voltarem a todo vapor e essa corda soltar, tenho certeza que vou voar bem longe.
FONTE: Brasil Elpais
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